sexta-feira, 21 de setembro de 2012

Maracanazo.

O panorama europeu em 1950 era de total devastação. Destruídos pela 2ª Guerra Mundial, nenhum país apresentava estrutura (física e, principalmente, financeira) para receber uma Copa do Mundo. Assim sendo, o Brasil foi o único país candidato à sede do evento.

Para receber a Copa, construiu-se então o que seria o MAIOR estádio do mundo. Com "capacidade" para 200 mil pessoas, o Maracanã, como foi chamado, seria o majestoso palco da grande final do evento. Esperançosos, os brasileiros acreditavam fielmente que ali jogaria o escrete brasileiro em 16 de julho, data da partida derradeira da Copa.

Contando com 12 equipes, incluindo seleção do Uruguai (campeã em 1930) e a Inglaterra (estreante) iniciou-se a Copa do Mundo de 1950. O Brasil, sem Leônidas, tinha como base o time do Vasco da Gama (8 jogadores). A Seleção estreou com vitória convincente: 4x0 diante da Seleção Mexicana. Já a Seleção Inglesa, decepcionou e estreou perdendo por 1x0 para os Estados Unidos. 

Cada jogo da Seleção Canarinha aumentava a expectativa dos corações brasileiros. A ansiedade tomava conta do povo, e junto dela, a vontade de ser campeão. Nem mesmo o empate por 2-2 com a Suíça fez esmorecer a esperança brasileira. A vitória seguinte, sobre a Iugoslávia, fez com que o Brasil encerrasse a fase de grupos em primeiro lugar e passasse para o quadrangular final, juntamente à Espanha, Suécia e Uruguai.

No quadrangular final, o Brasil desfilou. Aplicou duas sonoras goleadas: 7x1 sobre a Suécia e 6x1 sobre a Espanha, goleadas que colocaram a Seleção como franca favorita para o título Mundial. Era impossível conter a euforia. O futebol bem jogado, envolvente, defesa bem postada, ataque explosivo - todo o jogo brasileiro estava encaixado. Funcionava e, mais do que isso, encantava.

Diferente disso, era o futebol da Seleção adversária do Brasil na grande final: o Uruguai. A Celeste havia chegado a final com apenas um empate diante dos suecos (2x2) e uma vitória suada diante dos espanhóis, por 3x2, tendo grandes problemas nessas duas partidas. 

Nos dias anteriores à final, alguns poucos tentavam pregar cautela e modéstia. Outros muitos colocavam o Brasil já como campeão - não em desrespeito ao escrete uruguaio, mas sim em encanto com o futebol canarinho. Nesse clima, no dia 16 de julho, a Seleção Brasileira estava, de fato, naquele Maracanã recém-construído. Naquele Maracanã prestes a ser o palco da história sendo escrita. Naquele Maracanã que recebia em torno de 200-220 mil corações apertados e nervosos. 

A bola rolou. O Brasil começou pressionando, jogando pra frente, atacando, afinal, esta era sua característica marcante. O Uruguai se defendia e explorava o contra-ataque. A torcida brasileira cantava, apoiava, empurrava o Brasil à frente, e ele ia, ia, mas não chegou ao gol. Perto do fim do primeiro tempo, um grande susto pros brasileiros: bola na trave em chutaço do uruguaio Míguez. 

O placar de 0x0 ao fim do primeiro tempo assustava os brasileiros. Mesmo com o empate favorecendo a Seleção (pela melhor campanha), todos esperavam mais um show em campo. Ele não aconteceu na primeira etapa, e também não aconteceria na segunda. Mas ninguém sabia disso. Ninguém esperava isso.

Veio o segundo tempo e logo a Seleção Brasileira mostrou seu cartão de visitas. Em lance polêmico, gol de Friaça, abrindo o placar. 1x0 Brasil e festa no Maracanã. Cantos, rojões, muito barulho e muita festa.

Com palavras de incentivo, o capitão uruguaio Varela tentou acalmar e contagiar seu time. Aos 21 minutos, em mais um dos contra-ataques perigosos da Celeste, sai o gol de empate: após bela trama entre Varela e Ghiggia, a bola é lançada para Schiaffino concluir ao gol defendido por Barbosa. O empate silenciou o Maracanã de uma forma assustadora. 200 mil vozes emudecidas. Técnico, jogadores e torcedores - todos baqueados com o gol uruguaio.

O silêncio no maior do Mundo apenas motivou mais o escrete uruguaio. Eles sabiam que aquela era a hora de virar o jogo. Passaram a atacar e pressionar. A Seleção Brasileira não conseguia mais jogar. Restringia-se apenas à defender e segurar o empate que lhe daria o título. Aos 34, acontece o que nem o brasileiro mais pessimista esperava: sai a virada uruguaia dos pés de Ghiggia. Os brasileiros nas arquibancadas perderam a respiração por alguns segundos, continuaram emudecidos, até o jogo ser reiniciado no meio-campo.

Assim que o time brasileiro deu o primeiro toque na bola no reinicio da partida, o Maracanã veio junto. Aplausos, gritos, incentivos. 10 minutos para um gol. Pressão brasileira - pressão desordenada, pressão sem tática, apenas coração. O nervosismo brasileiro era visível, principalmente, nas péssimas finalizações à gol. A bola devia estar pesando 100kg no pé de cada um dos jogadores brasileiros.

O juiz apitou o fim da partida e o país pôs-se a chorar. Torcedores, jogadores... às lágrimas. Alguns olhavam incrédulos para o gramado, por longos minutos, esperando que algo acontecesse para mudar o placar daquela partida. Os uruguaios comemoravam efusivamente (também ainda sem muito acreditar) aquela que seria a maior conquista de sua história. Já os brasileiros... esses mergulhavam profundamente naquela que ficou conhecida como "a mãe de todas as derrotas". Resignado, o público aplaudiu o escrete uruguaio e deixou, aos poucos, bem lentamente, o Maracanã. Talvez ainda esperando que algo acontecesse.

A história, de fato, foi escrita - nesse Maracanã gigante e recém-construído. Mas não da forma como nós brasileiros gostaríamos que tivesse sido.

por Nathália Almeida.