quarta-feira, 24 de julho de 2013

Djalma Santos, eterno.

Ontem, 23 de julho de 2013, faleceu em Uberaba, aos 84 anos, Djalma Santos. Internado desde o início deste mês, Djalma Santos lutou pela vida durante três semanas, mas acabou sucumbindo às complicações de uma grave pneumonia. 

Mas quem foi Djalma Santos? - pode perguntar o mais desinformado. E faz algum sentido não saber.

Jovens como eu, que só tiveram oportunidade de acompanhar as Copas do Mundo de 2002 pra cá, estamos acostumados com Ronaldinhos e afins. De vez em quando, ouvimos nossos pais falarem de Gérson, Rivelino e Jairzinho, craques da Seleção Brasileira de 1970, campeã com autoridade no México. Outras muitas vezes, ouvimos de nossos pais, e principalmente da mídia esportiva, sobre a Seleção de 82, que encantou o mundo com o "futebol arte": Sócrates, Tostão, Zico, Cerezo... pra muitos, diria quase todos, a maior Seleção Brasileira da História.

E esquecemos da Seleção bicampeã do mundo. 1958-1962, a geração que transformou o futebol brasileiro. Esquecemos da estréia daquele moleque magro e bom de bola, de apenas 17 anos, chamado Edson. Esquecemos da Seleção de Garrincha, Didi, Castilho, Bellini, Nilton Santos... Esquecemos a história.

Em tempos de vai-vém de jogadores, efemeridade de relações entre clubes e atletas, escudos rivais beijados "à torto e a direita", nossos atletas de 58-62 representam o que há de mais bonito no futebol: o orgulho de vestir a camisa da Seleção Brasileira e a real identificação com os clubes que escolheram defender. Castilho, goleiro desta seleção, dedicou sua vida ao Fluminense, atuando no clube tricolor por 18 anos. Garrincha defendeu o alvinegro carioca por 12 anos. Nilton Santos defendeu o Botafogo, e o Botafogo somente, durante toda a sua carreira.

Djalma Santos era o lateral-direito dessa vitoriosa seleção. Atacava e defendia com um vigor físico invejável. Sua participação ofensiva era, até então, uma novidade no futebol, já que a posição de lateral era majoritariamente defensiva. Participou da Copa do Mundo de 54 e fez um gol na derrota do Brasil para a fortíssima Seleção Húngara de Puskas, por 4-2. 

Ter feito parte do elenco bicampeão do mundo, desempenhando com maestria a função de lateral, não é a única credencial de Djalma Santos. A principal qualidade deste atleta, ao longo de sua carreira, foi o respeito com o qual tratou o futebol e os clubes onde atuou. Não a toa transformou-se em ídolo de duas torcidas rivais, do mesmo estado: Portuguesa e Palmeiras. 

Foram onze anos defendendo as cores da Lusa e nove anos defendendo o Palmeiras. Defendeu também, por quatro anos, o Clube Atlético Paranaense, porém, sempre deixou claro que os dois clubes de São Paulo eram suas grandes paixões. Com mais de 400 partidas, transformou-se no segundo jogador a mais vestir a camisa da Lusa. No Palmeiras, inúmeros títulos conquistados, dentre eles o Rio São-Paulo de 1965 e o Torneio Roberto Gomes Pedrosa de 1967.

Mais de mil partidas em campo, 24 anos de carreira, e nenhuma expulsão: evidência de caráter, lealdade e respeito à profissão e aos colegas.

Quem foi Djalma Santos?  O melhor lateral da história do futebol brasileiro. 

Ontem, descansou. Nos despedimos dele, agradecendo por tudo.

sexta-feira, 12 de julho de 2013

Debutou o amargo vice.

Há exatos 15 anos, precisamente no dia 12 de julho de 1998, mais um capítulo marcante da história do futebol estava sendo escrito. Para uma nação, era o capítulo mais bonito já vivido por sua seleção nacional. Para outra, episódio dramático, triste e com um desfecho para ser esquecido.

De um lado, a anfitriã: Les "Bleues", a ótima seleção francesa, liderada pelo gênio Zinedine Zidane. Do outro, a seleção tetracampeã do mundo, defensora do título de 1994, com Rivaldo como referência e com o garoto Ronaldo, de apenas 21 anos, como grande esperança.

As duas seleções tiveram trajetórias semelhantes na competição, antes de alcançarem a final. A seleção francesa esteve "na corda bamba" por duas vezes: nas oitavas-de-final, quando venceu o Paraguai apenas na prorrogação (com gol de ouro no minuto 113', marcado por Laurent Blanc) e nas quartas-de-final, quando decidiu a vaga contra a Itália apenas nas penalidades, num 4-3 de tirar o fôlego com direito à chute no travessão de Di Biagio na última cobrança italiana. Nas semifinais, enfrentou a surpreendente seleção croata e também teve jogo duro: saiu perdendo por 1-0 (gol de Suker, um dos destaques da Copa), mas virou e venceu por 2-1, dois gols do zagueiro Thuram.

A seleção brasileira não teve problemas nas oitavas-de-final, quando goleou o rival sul-americano Chile por 4-1, com direito a dois gols de Ronaldo. Porém, teve confronto duríssimo contra a Dinamarca nas quartas, num jogo cheio de alternâncias e possibilidades: gol dinamarquês aos 2', virada brasileira, empate já na segunda etapa e poder de reação para marcar o terceiro e definir a classificação. Não é de se estranhar que a boa seleção dinamarquesa teve 2 jogadores da "seleção da Copa", justamente os irmãos Laudrup (que, diga-se de passagem, foram excelentes jogadores - principalmente o meio-campista Michael Laudrup). Na semifinal, "epopeia" no Stade Vélodrome. Brasil x Holanda fizeram uma das partidas mais emblemáticas da história das Copas, tendo Taffarel como protagonista. O 1-1 no tempo normal e o 0-0 na prorrogação levaram a decisão para os pênaltis, onde a estrela do goleiro gaúcho brilhou e duas cobranças holandesas terminaram em suas luvas.

A tradição e o peso das quatro estrelas na camisa da seleção canarinho se sobrepunha ao favor casa: o Brasil chegava à final com status de favorito. Imaginava-se que "os azuis" sentiriam a pressão, por estarem disputando a primeira final de Copa do Mundo de sua história, e por esta ser justamente diante de seu povo. O palco da final seria o Stade de France, inaugurado em 1997, com capacidade para 80 mil pessoas. Aos gritos de "Allez, France", o pontapé inicial foi dado exatamente as 21h do horário local (16h no Brasil). Era o pontapé inicial de um enredo que nem o brasileiro mais pessimista esperava. 

O amplo domínio francês sobre a Seleção Brasileira começou já nos primeiros minutos de jogo e sustentou-se até o apito final. Irreconhecível em campo, o Brasil pouco ameaçou seu adversário no primeiro tempo: suas investidas ofensivas resumiram-se à uma boa jogada de Roberto Carlos pela esquerda e uma cabeçada de Rivaldo após escanteio, com boas defesas de Barthez em ambos os lances.

Aos 27', escanteio bem cobrado pela esquerda e cabeçada certeira do craque Zidane, sem marcação. Com a liderança no placar, a seleção da casa ficou ainda mais à vontade em campo, ampliando a posse de bola e domínio territorial. Nos minutos seguintes, o Brasil escapou de levar o segundo em duas oportunidades: a primeira, após conclusão errada de Petit e outra em bela defesa de Taffarel, após chute rasteiro de Guivarc'h. Entretanto, a bola parada seria cruel novamente para a Seleção Brasileira. Em um lance quase idêntico ao primeiro gol, porém pela direita, cruzamento na cabeça de Zidane e rede, sem chances para Taffarel. 2-0 no placar.

O panorama não mudou na segunda etapa. A Seleção seguiu apática, e a França criando (e desperdiçando) um caminhão de gols. Dos pés de Ronaldo, no meio da segunda etapa, uma esperança nasceu e rapidamente morreu: bela defesa de Barthez em chute do camisa 9, à queima-roupa. As alterações de Zagallo não fizeram efeito e o Brasil continuou dominado até o fim da partida. Ainda houve tempo para o "golpe de misericórdia", gol de Petit já nos acréscimos (93'), num belo contra-ataque. 

Tristes, atônitos, incrédulos... faltam adjetivos para descrever o brasileiro, amante de futebol e torcedor da Seleção, que assistiu àquela partida. Por dias, semanas, meses e anos, buscou-se uma explicação, alguma teoria que desse conta de explicar o que haviam sido aqueles 90 minutos de futebol (ou falta dele) apresentados pelo Brasil. 

O que foi? Pra mim, foi futebol, e só. Em toda sua mágica, complexidade e imprevisibilidade


Hoje, debutou o amargo vice. 15 anos de uma derrota pra se esquecer. Mas quem disse que conseguimos?

terça-feira, 21 de maio de 2013

Era uma vez...

Um lugar majestoso. Monumental. Cada centímetro seu inspirava grandiosidade. Proporcional ao seu tamanho, era sua mágica. Encantava. Fazia os pêlos do corpo arrepiarem.

Eu me sentia pequenininha ao pisar lá. Era como se ninguém pudesse me notar, me ouvir ou ver. Independente desta sensação, eu gritava mesmo assim. Todos ao redor também gritavam, algo diferente a cada momento, mas sempre num coro uníssono, apaixonado, vibrante e empolgado. Será que eles se sentiam da mesma forma que eu? Insignificante, mas essencial ao mesmo tempo?

Sim, eu pertencia àquele lugar. Mesmo que ninguém soubesse disso, eu sabia. Sentia as pernas tremendo na subida da rampa, a caminhada até a entrada do setor amarelo (ou verde) era sempre embalada por algum surdo ou bumbo... E meu coração dançava no ritmo da melodia das palmas sincronizadas.

Eu via paixão nos olhos de cada um daqueles indivíduos que, como eu, dedicavam algumas horas de seus dias (especialmente quartas e domingos) para aquele ritual. Quando se aproximava a hora do espetáculo começar, aquele mar de gente ia se espalhando, colorindo os espaços já coloridos daquele palco. O verde, amarelo, branco e o azul, as cores no nosso Brasil, davam lugar ao verde, branco e  grená. Mas sem preconceito, em outros momentos, dava lugar também ao preto e vermelho, ao branco e preto...

Ele abraçava todas as cores. Todas as gentes. Sem distinção.

O "contrato" que selamos desde 1999 foi cumprido, de maneira fiel, até o seu anunciado fim chegar. Me abraçou e me acolheu, por todos esses anos, com um carinho indescritível. Mesmo sendo pequeninha e "insignificante", eu fazia parte daquela multidão que o adentrava, que o adotava como casa por alguns instantes e que ali sorria, chorava e vibrava. Essa multidão o fazia ainda mais mágico e bonito.

É certo que fizemos parte da história deste lugar. Porém, é mais certo ainda que ele fez parte de nossas histórias.

Fez parte da história de todos que acompanharam a Copa de 1950, brasileiros ou não; do torcedor fanático do Flamengo que viu Zico balançar as redes centenas de vezes; do trabalhador que todos os dias pega o metrô e o observa pelo vidro, entre a estação que leva seu nome e São Cristóvão; daquele que não gosta de futebol, mas que já foi lá para fazer a prova do Colégio Militar.

Meu Maracanã, de tantas tardes, de tantas noites, de chuva, frio e calor: eu nunca vou te esquecer.

Descanse em paz.